9.08.2009

O Solnado da Paz



As minhas férias foram dolorosamente surpreendidas - interrompidas - pela nótícia do falecimento de um detentor da minha mais alta estima, consideração e simpatia, embora a providência não me tenha acordado senão escassos episódios de convivência, Raul Solnado, pelo que, jamais iniciaria a minha rentrée na blogosfera sem esta penosa introdução.

Ao cumprir o pungente dever do Adeus, também sob a plataforma virtual, não poderia deixar, ao mesmo tempo, de exprimir a minha sincera homenagem à dedicação que sempre teve pelo meio artístico. Foi essa entrega que desde há longos anos, foi apanágio o Raul nas diversas acções que empenhadamente desenvolveu, desde a sua dedicação inicial como humorista ao serviço de um certo exorcismo em nome dos padecentes de todas as desgraças guizalhando os infortúnos, depois sucessivamente como representante desta nobre virtude socio-humorista e por fim nas funções em prol da Arte amoldada ao arrebatamento e/ou à névoa meta-física terminal.
Não houve adversidades que o desencorajasse. Fica-lhe a comunidade artística (e não só) devedora de um enorme esforço, persistente e quotidiano ao seu serviço, dentro dos critérios e coragem que julgou serem mais adequados e justos ao seu progresso e desenvolvimento.
A minha homenagem deverá consistir em mantermo-nos firmes na defesa dos interesses colectivos - sociais - pelos quais o Raul sempre pugnou. Mas a desolação que este tributo tem por fundo destaca a notoriedade do humorista industrioso em engendrar popularidade com uma simples "pose d'enfant" narrando uma qualquer tragédia infantil.

Quero assim chegar à conclusão de que este meu intróito deixa aqui cruelmente registada a dor com que prossegue o meu futuro, longo, curto, infernal ou não, sem um dos poucos olhares mais ingênuos, dóceis, humildes e desesperados do palco que alguma vez me assaltou e exilou a chama mágica da vida. Uma criança que pensava como gente grande e me devolveu a matiz sem nunca a retocar ao entardecê-la.. como aquela gargalhada que madrugou sem nunca se zangar com a ribalta do dia e nos soube proporcionar um magnifico luar ao adormecer o sorriso.

E porque a sua "guerra" sempre se revelou a mais justa de todas, fica aqui o meu louvor entregue a este verdadeiro combatente e, agora, eterno Solnado da paz!


Laetitea